Você é alguém que se preocupa muito com outra pessoa? Que faz tudo o que o outro precisa acima de suas próprias necessidades? Cuidado, você pode ser codependente!
A codependência faz super mal para quem configura como codependente e, em caso de cuidados com outra pessoa que faz algum tipo de tratamento, pode ser ainda pior.
Dessa forma, a codependência atrapalha o tratamento de pessoas que estão sob cuidados de clínicas, médicos e outros, pois justamente não deixa com que o tratamento evolua.
Mas, o que é codependência? Como é ser uma pessoa codependente e quais os tipos de codependência que existem? Como ser codependente pode gerar inúmeros prejuízos?
Se a sua dúvida é uma dessas, parabéns, você está na matéria certa!😃
Por isso, continue a leitura e descubra tudo sobre o que é a codependência e como ela atrapalha o tratamento de pacientes em clínicas de recuperação.
E no final, um bônus para você entender como um familiar codependente pode atrapalhar os cuidados de um dependente químico através de uma história de vida.
O que é codependência?
A codependência é um padrão de comportamento em que uma pessoa se torna excessivamente dependente das necessidades e comportamentos de outra pessoa, frequentemente em relações onde há abuso ou negligência emocional.
Isso geralmente acontece em contextos onde um dos envolvidos tem alguma forma de dependência (como vício) ou problemas mentais, e o codependente acaba sacrificando suas próprias necessidades para cuidar ou salvar o outro.
Esse comportamento pode levar a uma relação desequilibrada e insalubre.
Como uma pessoa fica codependente?
Saber o que é codependência é interessante mas, como uma pessoa desenvolve esses comportamentos insalubres?
Sendo assim, a codependência desenvolve-se frequentemente a partir de padrões de relacionamento aprendidos na infância, onde um indivíduo é criado em um ambiente que valoriza excessivamente o cuidado e a resposta às necessidades dos outros, muitas vezes à custa de suas próprias necessidades.
Essa tendência é reforçada por um desejo de evitar conflitos e uma busca por estabilidade emocional, mesmo que isso signifique sacrificar a própria autonomia e saúde mental.
Partindo disso, é importante conhecer alguns tipos específicos de codependência.
Quais são os tipos de codependência
Existem vários tipos de codependência, mas 5 deles são os mais comuns, veja-os a seguir.
1. Codependência emocional
Características:
- Medo intenso de abandono ou solidão;
- Baixa autoestima e autoconfiança;
- Necessidade excessiva de aprovação e validação do outro;
- Dificuldade em estabelecer limites saudáveis nos relacionamentos;
- Tendência a se sacrificar pelas necessidades do outro;
Exemplos
Alguém que fica ansioso e inseguro quando seu parceiro viaja a trabalho.
Uma pessoa que constantemente abre mão de seus próprios planos para agradar o parceiro.
Um indivíduo que tolera comportamentos abusivos do parceiro por medo de ficar sozinho.
2. Codependência em relacionamentos de adição
Características
- Negação ou minimização do vício do outro;
- Assumir a responsabilidade pelas ações e consequências do vício do outro;
- Tentar controlar o comportamento do outro para protegê-lo ou a si mesmo;
- Sentir-se culpado por não conseguir “consertar” o vício do outro;
Exemplos
A esposa de um alcoólatra que esconde garrafas de bebida para evitar que ele beba.
O filho de um viciado em drogas que assume suas dívidas para protegê-lo de credores.
Um amigo que tenta convencer um viciado em jogos a procurar ajuda profissional, mas sem sucesso.
3. Codependência em relacionamentos abusivos
Características:
- Aceitar ou justificar comportamentos abusivos do parceiro;
- Sentir-se responsável por causar a raiva ou o ciúme do parceiro;
- Ter medo de deixar o relacionamento por causa de ameaças ou chantagens;
- Acreditar que não merece ser tratado com amor e respeito;
Exemplos
Uma mulher que é constantemente insultada e humilhada pelo marido, mas permanece no relacionamento porque “ele não é um homem ruim, só está passando por um momento difícil”.
Um homem que é fisicamente agredido pela esposa, mas tem medo de denunciá-la por medo de represálias.
Uma adolescente que é pressionada pelo namorado a enviar fotos íntimas para ele, mesmo se sentindo desconfortável com isso.
4. Codependência em relacionamentos de cuidado
Características:
- Assumir a responsabilidade total pelas necessidades de outra pessoa, como um filho, um pai idoso ou um parceiro com deficiência;
- Sentir-se ressentido ou irritado quando a outra pessoa não aprecia ou reconhece seus esforços;
- Dificuldade em permitir que a outra pessoa se torne mais independente;
- Sentir-se vazio ou perdido quando a outra pessoa não precisa mais de seus cuidados;
Exemplos
Uma mãe que faz tudo por seu filho adulto, inclusive lavar suas roupas e cozinhar suas refeições, mesmo ele sendo perfeitamente capaz de cuidar de si mesmo.
Um filho que dedica sua vida a cuidar de um pai idoso com Alzheimer, mesmo abrindo mão de sua própria carreira e vida pessoal.
Um parceiro que se torna o cuidador principal de outro parceiro que sofreu um acidente grave, sacrificando seus próprios sonhos e aspirações.
5. Codependência em relacionamentos de sobrecompensação
Características:
- Tentar compensar os erros ou falhas do outro;
- Assumir a culpa por problemas que não são seus;
- Sentir-se responsável por “consertar” o relacionamento;
- Acreditar que não é digno de amor e respeito a menos que esteja fazendo algo pelo outro;
Exemplos
Um homem que trabalha em excesso para compensar o fato de que sua esposa não tem um emprego.
Uma mulher que compra presentes caros para o marido para tentar apaziguar-lo depois de uma briga.
Um filho que se torna o “pai” de seus pais, assumindo responsabilidades que deveriam ser deles.
Leitura legal: como fazer uma pessoa parar de usar drogas rápido com 20 passos [GUIA]
Quais as desvantagens de ser um codependente?
Ser codependente traz desvantagens significativas, como a perda da própria identidade e a negligência das necessidades pessoais, uma vez que a pessoa foca exclusivamente nas necessidades de outros.
Isso pode levar a uma baixa autoestima e a problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.
Além disso, a dificuldade em estabelecer limites saudáveis pode resultar em relacionamentos abusivos ou insatisfatórios.
Codependentes também podem enfrentar problemas para tomar decisões independentes, tornando-se vulneráveis à manipulação e ao controle por parte de outros.
A codependência atrapalha o tratamento? Porquê?
A codependência atrapalha o tratamento de dependentes químicos porque frequentemente envolve a negação ou minimização da gravidade do vício.
Assim como comportamentos protetores que impedem a pessoa de enfrentar as consequências de suas ações.
Por exemplo, pais codependentes podem procrastinar a internação de seus filhos dependentes químicos, acreditando que eles se recuperarão sem intervenção especializada.
Mesmo quando optam pela internação, esses pais podem interromper o tratamento prematuramente, retirando o filho antes da conclusão recomendada.
Ou até mesmo falhar em tomar medidas assertivas após uma recaída, sempre justificando ou minimizando os comportamentos do filho.
Essas atitudes impedem o dependente de enfrentar a realidade do vício e de buscar a recuperação de maneira efetiva.
Como mudar essa realidade?
Pessoas codependentes podem mudar sua realidade e melhorar através da conscientização sobre o padrão de codependência e do aprendizado em estabelecer limites saudáveis.
Terapia, grupos de apoio como Codependentes Anônimos (CoDA), e educação sobre relacionamentos saudáveis são ferramentas úteis.
Além disso, é essencial que desenvolvam autoestima e independência, aprendendo a priorizar suas próprias necessidades e a tomar decisões que promovam o bem-estar pessoal.
Codependência atrapalha o tratamento: um relato de uma mãe e filho
Agora que você já sabe tudo sobre codependência, vou contar como minha mãe se tornou codependente de mim e como ela se livrou disso também.
No início, quando meus pais descobriram que eu estava usando drogas, ambos sofreram, mas minha mãe foi mais afetada pela minha dependência.
Toda vez que eu saía de casa, ela quase tinha um infarto, ficava em pânico e desesperada.
Quando eu voltava drogado, apesar de gritar comigo, ficar triste e chorar, ela se sentia bastante perdida e não sabia a quem recorrer
Eu já tinha sido internado duas vezes antes, e com o ritmo que estava, caminhava para a terceira internação.
Em janeiro de 2020, fui internado novamente, desta vez em uma unidade simples, com o básico do tratamento. Minha mãe, já cansada de tantos problemas, apertou a famosa tecla “f*da-se”.
Fiquei trinta dias na clínica e, logo que saí, com a pandemia acontecendo e eu trabalhando em casa, tivemos tempo para conversar.
Isso nos ajudou a estabelecer uma relação mais saudável baseada em limites:
“Se você quiser se enfiar na droga, pode e faça como quiser, mas saia daqui! Eu não quero mais saber de você se ficar assim, quero viver minha vida!”
São palavras assim que, apesar de doerem, fazem a gente perceber que o único inimigo é o nosso vício, e que, se ele desaparecer e a gente mudar, o resto também muda
Será que, se minha mãe continuasse me acolhendo toda vez que eu usasse drogas, eu teria percebido e mudado para melhor?
Hoje, trabalho como redator na clínica Rezende e faço muitas internações na unidade. Sinto pena de muitas mães e pais que não conseguem cortar o cordão umbilical e deixar seus filhos verem a sua realidade.
Isso atrapalha muito quem está se recuperando, porque a pessoa não tem a oportunidade de ver o quanto está sendo prejudicial para si mesma e para seus familiares.
Existem pessoas que precisam chegar ao fundo do poço para aprender. Privar alguém dessas oportunidades pode privá-la da verdadeira mudança.